Radar Brasileiro


October 17, 2025

Manutenção sistema elétrico: garanta segurança e evite multas

A correta manutenção sistema elétrico é essencial para garantir segurança, continuidade operacional e conformidade com normas brasileiras como NBR 5410 e NR-10. Uma abordagem técnica e estruturada reduz riscos de choque elétrico, incêndio e perdas por indisponibilidade, além de otimizar custos de operação através de ações preventivas e preditivas coordenadas com proteção elétrica, aterramento e dispositivos de seccionamento.

Abordarei, a seguir, os fundamentos regulatórios e de segurança que orientam a manutenção, depois praticarei a distinção entre tipos de manutenção, detalharei inspeções, ensaios elétricos, procedimentos de bloqueio, equipamentos de proteção e critérios técnicos para componentes críticos. Cada seção foi pensada para servir como um guia prático e técnico para gestores, eletricistas e equipes de manutenção.

Antes de avançar para definições operacionais e procedimentos, é essencial contextualizar as exigências normativas e as responsabilidades técnicas que regem a atividade de manutenção elétrica.

Regulamentação, responsabilidades e requisitos normativos

Conhecer o arcabouço normativo garante que a manutenção atue não apenas na resolução de falhas, mas na mitigação de riscos e no atendimento a obrigações legais.

Normas e regulamentos aplicáveis

As principais referências no Brasil são a NBR 5410 (instalações elétricas de baixa tensão) e a NR-10 (segurança em instalações e serviços em eletricidade). A NBR 5410 orienta critérios de projeto, proteção contra choques e manutenção de instalações prediais e industriais em baixa tensão; a NR-10 define requisitos mínimos de segurança para trabalho em eletricidade, exigindo treinamento, procedimentos, análise de risco e medidas de proteção coletiva e individual.

Responsabilidades técnicas e legais

O gestor ou proprietário tem o dever de garantir integridade das instalações, manutenção periódica e registros documentados. Em instalações industriais, o responsável técnico (engenheiro eletricista) deve assinar planos de manutenção, laudos e aprovações. A ausência de atendimento à NR-10 pode resultar em autuações, paralisação de atividades e responsabilidade criminal em caso de acidentes.

Documentação exigida

Documentos imprescindíveis: projeto elétrico atualizado, memória de cálculo, diagrama unifilar, livro de ocorrências, registro de inspeções, relatórios de ensaios (resistência de isolamento, termografia, medição de resistência de aterramento), certificados de calibração de instrumentos e anotações de capacitação da equipe conforme NR-10.

Com as bases normativas estabelecidas, explicarei os tipos de manutenção e como escolher a estratégia correta segundo criticidade e risco.

Tipos de manutenção: preventiva, preditiva, corretiva e baseada em risco

Escolher a estratégia de manutenção influencia diretamente segurança, disponibilidade e custo. A combinação adequada reduz falhas inesperadas e prolonga vida útil dos ativos elétricos.

Manutenção preventiva

A manutenção preventiva segue calendários e checklists para inspeção e substituição programada de componentes antes do rompimento. Indicada para painéis, disjuntores, fusíveis, cabos e conexões. Base tecnológica simples: limpeza, reaperto de conexões, lubrificação de mecanismos, verificação de torque de bornes e inspeção visual de isolamento. Benefícios: redução de avarias súbitas e prevenção de pontos quentes que podem provocar incêndio.

Manutenção preditiva

A manutenção preditiva usa medições periódicas (termografia, análise de ultrassom parcial, análise de vibração em motores, ensaios de isolamento) para inferir degradação e programar intervenções apenas quando necessário. Exige investimentos em instrumentação e em interpretação de dados, mas reduz custos ao evitar trocas prematuras e minimizar paradas não planejadas.

Manutenção corretiva

A manutenção corretiva atua após falha. Deve ser organizada com procedimentos seguros de atuação emergencial, planos de contingência e análise de causa raiz para evitar recorrências. Dependendo da criticidade, pode ser imediata (corretiva urgente) ou programada (corretiva planejada).

Manutenção baseada em risco e criticidade

Classificar ativos por criticidade (impacto em segurança, ambiente, produção e custos) permite alocar recursos. Painéis de força primária, transformadores e motores críticos demandam maior frequência de inspeção e técnicas preditivas; tomadas e circuitos de baixa carga podem ter periodicidade maior. A avaliação de risco deve considerar consequências e probabilidade e seguir registros sistemáticos para revisão contínua.

Agora que as estratégias estão definidas, detalho os procedimentos de inspeção e os pontos críticos a serem avaliados durante a manutenção de instalações elétricas.

Inspeção visual e checklist técnico detalhado

Inspeções visuais regularizadas são a primeira linha de defesa. Devem seguir checklists padronizados e ser registradas.

Componentes e sinais a observar

Verificar integridade mecânica de quadros, chaves e disjuntores, manchas de aquecimento, derretimento de isolantes, odor de ozônio, vibração excessiva em transformadores e motores, presença de corrosão em terminais, sinais de entrada de umidade, cabos com tração ou roçamentos e identificação legível dos circuitos. Pontos quentes visíveis podem indicar conexões frouxas ou sobrecarga.

Checagem de conexões e torque

Conexões elétricas devem ser verificadas com torquímetro conforme especificação do fabricante. Bornes soltos aumentam resistência de contato e geram aquecimento. Procedimento: desenergizar quando possível, limpar oxidações com escova adequada, reaplicar pasta antioxidante quando cabível e reapertar ao torque recomendado.

Integridade do sistema de identificação

Sinais e identificação de cabos, barramentos e dispositivos devem seguir normas internas e a NBR 5410, garantindo rápida localização de circuitos em emergências e correta realização de serviços sem risco de energização incorreta.

Registro fotográfico e rotina de relatórios

Documentar anomalias com fotos datadas e relatórios descritivos é essencial para histórico e cumprimento de auditorias. Registros auxiliam análise de tendência e justificam intervenções maiores.

Inspeções visuais e checklists revelam muitos problemas, mas medições instrumentais confirmam condições elétricas e permitem diagnóstico preciso.

Ensaios elétricos: métodos, critérios e interpretação

Ensaios periódicos verificam a condição do isolamento, continuidade, aterramento e desempenho de proteções. Devem ser executados por pessoal capacitado e com instrumentos calibrados.

Medição de resistência de isolamento

Realizada com megômetro. Tensão de ensaio típica: 500 V para condutores até 1 kV e 1 kV para sistemas de média tensão, seguindo orientação do fabricante e normas aplicáveis. Critério de aceitação: valores mínimos dependem da tensão do sistema e do tipo de equipamento; por exemplo, condutores novos devem apresentar resistência muito alta (> 1 GΩ em muitos casos), enquanto ativos instalados têm limites práticos conforme diagnóstico de tendência. Interpretação inclui avaliar influência de umidade e temperatura; sempre registrar e comparar com leituras anteriores.

Ensaio de continuidade

Verifica condutores de proteção e aterramento com ohmímetro de baixa resistência. A continuidade do condutor de proteção deve garantir baixa impedância para permitir atuação adequada de dispositivos de proteção. Valores de resistência de aterramento devem atender projeto e legislação local, sendo comumente inferiores a 10 Ω para subestações, mas criteriosamente ajustados conforme risco e seletividade de proteção.

Termografia e análise infravermelha

A termografia identifica pontos com elevação térmica que antecedem falhas. Recomenda-se executar com equipamento calibrado, em condição de carga representativa (> 30% da carga nominal para detecção confiável). Interpretação técnica: diferenças de temperatura entre fases, comparação com histórico e análise de causas (sobrecarga, mau contato, desequilíbrio). Sempre associar termografia a medidas corretivas como reaperto ou substituição de terminais.

Teste de funcionamento de proteções e coordenação

Verificar operação de relés, disjuntores, fusíveis e dispositivos diferenciais residuais. Ensaios de tempo-corrente e simulação de faltas confirmam coordenação e seletividade, fundamentais para minimizar área afetada pela interrupção e garantir desligamento seguro em falhas. Documentar curvas e ajustar ajustes de relés conforme necessidade.

Ensaios requerem procedimentos seguros e específicos; por isso, detalho medidas de segurança e procedimentos de bloqueio e de trabalho sob tensão.

Segurança em atividades de manutenção: procedimentos, EPI e NR-10

Segurança é prioridade: manutenção elétrica correta salva vidas. Todas as intervenções devem seguir a NR-10 e procedimentos internos documentados de travamento e etiquetagem (lockout/tagout).

Permissão de trabalho e análise de risco

Antes de qualquer intervenção, emitir permissão de trabalho com análise de risco, definição de sequência de operação, responsabilidades, meios de isolação e plano de emergência. O documento deve identificar energias remanescentes e medidas de proteção coletiva e individual.

Bloqueio, seccionamento e aterramento provisório

Aplicar técnica de bloqueio e etiquetagem após isolamento: abrir seccionador, retirar fusíveis, travar dispositivos e anexar etiqueta com responsáveis e prazo. Para circuitos onde permanece risco de reenergização por backfeed, usar aterramento provisório com cabos e hastes dimensionadas para corrente de curto-circuito. O aterramento temporário reduz risco de potencialização inesperada.

Equipamentos de proteção individual e coletiva

Equipamentos necessários: luvas isolantes com classe adequada à tensão de trabalho, calçados isolantes, óculos de segurança, vestimenta retardante a chamas, capacete com proteção contra descarga elétrica, proteção auricular quando aplicável e tapetes isolantes. Proteções coletivas incluem barreiras, avisos e proteção contra arco elétrico. Todos os EPIs devem estar dentro da validade de ensaios e inspeções periódicas.

Trabalho sob tensão: quando permitido e controle de riscos

Trabalhos a quente (sob tensão) só devem ocorrer quando for imprescindível e mediante autorização formal, plano de trabalho específico, equipe especializada e medidas adicionais de mitigação de risco, conforme NR-10. Sempre buscar alternativas para realizar serviço com a energia desligada.

Além de segurança, a escolha e uso correto de ferramentas e instrumentos são determinantes para medições confiáveis e intervenções seguras.

Instrumentação, calibração e técnicas de medição

Instrumentos devem ser adequados ao tipo de ensaio e possuir rastreabilidade metrológica. Erros de medição podem levar a decisões inadequadas que comprometem segurança e confiabilidade.

Instrumentos essenciais

Equipamentos comuns: multímetro com categoria de segurança (CAT) adequada, megômetro, alicate amperímetro de verdadeira RMS, câmera termográfica, analisador de rede para harmônicos e desequilíbrios, equipamento de ensaio de relés e simuladores de injeção, e detector de tensão sem contato para verificação prévia. Para medições de baixa resistência usar ponte tipo microohmímetro.

Calibração e controle de qualidade

Manter ciclo de calibração documentado e rastreável. Insumos como cabos de ensaio e garras devem ser inspecionados antes de uso. Procedimentos de medição precisam descrever sequência, estabilização das grandezas medida e correções por temperatura quando aplicável.

Técnicas de medição avançadas

Ao realizar termografia, respeitar emissividade dos materiais e verificar reflexos que possam induzir leitura errônea. Em ensaios de isolamento, efetuar pré-carga e medir corrente absorvida para avaliação de polarização. Para análise de harmônicos, capturar amostras em estado de carga representativa e aplicar FFT para identificar fontes de distorção e possíveis interferências em relés eletrônicos e transformadores.

Com medições e diagnósticos, a intervenção sobre componentes específicos pode ser planejada. A seguir descrevo manutenção de principais equipamentos.

Manutenção de painéis, disjuntores, transformadores e motores

Componentes como painéis de baixa tensão, disjuntores e transformadores exigem manutenção diferenciada por sua função crítica na proteção e distribuição de energia.

Painéis e quadros de baixa tensão

Rotina: limpeza interna, verificação de folgas e dissipação térmica, reaperto de bornes, checagem de barramentos para corrosão, teste de continuidade de terra e inspeção de sistemas de ventilação. Substituir componentes com sinal de aquecimento prolongado ou isolação degradada. Garantir que portas e fechaduras funcionem para evitar acesso indevido.

Disjuntores e dispositivos de proteção

Verificar funcionamento mecânico e elétrico, realizar ensaios de tempo-corrente e inspeção de contatos. Em caso de disjuntores motorizados, checar sistema de comando e baterias de acionamento. Para disjuntores de média e alta tensão, seguir procedimentos do fabricante e normas específicas para manutenção e manuseio de gases isolantes quando aplicável.

Transformadores

Manutenção inclui análise de óleo (em transformadores imersos), termografia nos terminais, verificação de buchas, reaperto de conexões e teste de relação de transformação e perdas. Monitorar níveis de ruído e vibração. Para transformadores secos, verificação da integridade do isolamento e limpeza são essenciais.

Motores elétricos

Inspeção de rolamentos, limpeza das aletas, verificação de ventilação, balanceamento e alinhamento com acoplamento. Ensaios de isolamento e medição de resistência de enrolamento. Substituição de escovas e comutadores quando aplicável. Manter histórico de horas de operação para planejar revisões rotineiras.

A manutenção técnica precisa considerar também a infraestrutura de cabos, aterramento e proteção contra surtos, que são cruciais para segurança e continuidade.

Cabeamento, aterramento e proteção contra surtos

Mal dimensionamento ou degradação de cabos e sistema de aterramento são causas frequentes de falhas graves e riscos de choque e incêndio.

Inspeção e manutenção de cabeamento

Verificar identificação, fixação, curvas de curvatura, sinais de abrasão e presença de umidade. Substituir trechos com comprometimento do isolamento. Em dutos e bandejas, assegurar ventilação e ausência de sobrecarga física. Para cabos de média tensão, inspeção de terminais e testes de resistência de isolamento são mandatórios.

Sistema de aterramento

Medir resistência de aterramento periodicamente; executar medições com método de queda de potencial quando aplicável. A resistência aceitável varia com a criticidade e o tipo de instalação, devendo estar registrada no projeto e laudos. Verificar continuidade do condutor de proteção até eletrodos e conexões enterradas, que podem se corroer com o tempo.

Proteção contra surtos (DPS)

Instalar Dispositivos de Proteção contra Surtos (DPS) em pontos estratégicos: entrada de alimentação, quadros principais e cargas sensíveis. Testar estado funcional e resistência de fuga dos DPS periódica e registrar vida útil conforme normas do fabricante. Sistemas sem DPS adequados tendem a apresentar maior frequência de falhas em eletrônicos e controles.

Além das manutenções técnicas, a gestão eficiente — registros, indicadores e contratação de serviços — garante sustentabilidade do programa de manutenção.

Gestão, indicadores, contratação e qualificação de prestadores

Um programa de manutenção robusto precisa de governança: políticas, indicadores e critérios para seleção e auditoria de prestadores de serviço.

Registros e histórico

Manter histórico digitalizado com registros de inspeções, ensaios, intervenções e calibrações. Um histórico consistente facilita análise de tendência e decisões de substituição ou upgrade. Incluir fotos, laudos e certificados de equipamentos de proteção.

KPIs e métricas essenciais

Indicadores recomendados: tempo médio entre falhas (MTBF), tempo médio para reparo (MTTR), taxa de cumprimento de plano de manutenção, número de não conformidades por inspeção, custo de manutenção por kW instalado e índice de segurança (número de ocorrências/horas trabalhadas). Acompanhar KPIs permite justificar investimentos em preditiva e automação.

Critérios para contratação de serviços

Exigir do prestador: qualificação técnica do pessoal (treinamento NR-10), seguro de responsabilidade civil, certificado de qualidade, políticas de segurança, lista de equipamentos calibrados e referências. Cláusulas de contrato devem prever SLA, obrigações de documentação, confidencialidade e responsabilidade em caso de incidentes.

Auditoria e avaliação técnica

Auditar periodicamente fornecedores e equipes internas com checagem de conformidade de processos, uso correto de EPIs, registro de não conformidades e aderência aos procedimentos de bloqueio e permissão de trabalho. Revisar contratos e planos com base em resultados de KPIs.

Por fim, apresento um resumo das prioridades de segurança e passos práticos para contratação de profissionais e implantação de um programa de manutenção eficaz.

Resumo de segurança e próximos passos práticos para contratação

Segurança é o pilar central: um programa de manutenção adequado protege vidas, reduz riscos legais e opera em conformidade com NR-10 e NBR 5410. Priorize isolamento, bloqueio e etiquetagem, uso de EPIs calibrados e treinados, registros documentados e medições periódicas que sustentem decisões técnicas.

Principais pontos-chave de segurança

- Sempre priorizar trabalho com energia desligada; quando inviável, formalizar permissão de trabalho e adotar medidas de mitigação adicionais.

- Implementar e documentar procedimentos de bloqueio e aterramento provisório.

- Garantir capacitação e reciclagem conforme NR-10 para toda equipe que interaja com instalações elétricas.

- Usar instrumentação calibrada e registrar relatórios de ensaios (megômetro, termografia, microohmímetro).

- Manter sistema de identificação e diagrama unifilar atualizado para resposta rápida em emergências.

Próximos passos práticos para contratação de serviços profissionais

- Elaborar um escopo técnico claro definindo ativos, frequência desejada (preventiva/preditiva), KPIs e SLAs.

- Exigir documentação mínima do prestador: registro de qualificação, certificados de capacitação NR-10, apólice de seguro, lista de equipamentos e certificados de calibração.

- Solicitar plano de manutenção inicial com cronograma, checklists e metodologia de ensaios.

- Verificar experiência em casos semelhantes (média/baixa tensão, indústria, prédios comerciais) e solicitar referências técnicas.

- Estabelecer cláusulas contratuais sobre entrega de relatórios digitais, backup de dados e responsabilidade por danos.

- Programar auditoria inicial após três meses de serviço e revisões trimestrais de KPI para ajuste do escopo.

Implementação e continuidade

Inicie com uma auditoria técnica detalhada para estabelecer linha de base, seguida por um plano de ações corretivas imediatas. Implemente inspeções visuais mensais, ensaios semestrais de isolamento e termografia anual — ajustando periodicidade conforme criticidade e resultados. Integre os registros ao sistema de gestão e promova treinamentos regulares para manutenção de cultura de segurança.

Executar um programa de manutenção elétrica íntegro exige compromisso com normas, procedimentos técnicos e segurança. A combinação de inspeções bem documentadas, ensaios instrumentais, práticas de bloqueio eficazes e fornecedores qualificados cria a robustez necessária para proteger pessoas, patrimônio e continuidade operacional.